25 de abr. de 2012

O SUICÍDIO DO TITANIC


Nesse mês, o mundo todo está comemorando o afundamento do Titanic, o transatlântico superfaturado que se chocou com um iceberg nas águas geladas do Atlântico Norte em 1912. Eu fui o único brasileiro que participou deste evento catástrofe internacional que agora será relançado em 3D.
Desde garoto, o meu maior sonho era fazer um cruzeiro marítimo numa superprodução de Hollywood! E assim, depois de ficar três anos sem almoçar nem jantar, consegui economizar dinheiro suficiente pra comprar uma passagem de figurante na terceira classe do Titanic. Segundo os engenheiros que o construíram, o Titanic era igual ao Brasil: os ricos ficavam por cima numa boa, os pobres ficavam espremidos lá embaixo e ninguém achava que aquela merda ia afundar.
Nunca se viu tanto luxo quanto na Primeira Classe do Titanic. As lagostas do bufê falavam três línguas e tinham doutorado em Cambridge. Os milionários mais ricos do mundo, os Astor, os Vanderbilt, os Guggeinhem, o Waltinho Moreira Salles, o Eike Batista e o Carlinhos Cachoeira, disputavam pra ver quem gastava mais dinheiro e comia mais mulheres (não necessariamente nesta ordem). Numa noite de bebedeiras alcoólicas, jogatina e uso indiscriminado de drogas estupefacientes, Cornelius Vanderbilt acendeu um Havana com uma nota de 100 dólares. Injuriado com aquela demonstração de ostentação gratuita, Lord Astor não deixou barato e acendeu sua amante com uma nota de mil dólares!
Os banheiros das suítes eram de uma luxo nababesco que deixava o Taj Mahal no chinelo. Ao lado do vaso sanitário todo em ouro maciço e brilhantes Cartier, havia um anão malaio 24 horas à disposição para realizar a higiene íntima dos magnatas abonados.
Enquanto os ricos chafurdavam em montanhas de caviar, nós lá na geral do navio só tínhamos o Leonardo di Caprio pra comer. Mas como a fila era grande, nem sempre sobrava um pedaço para a minha pessoa. Penalizado com a minha miséria, uma ratazana me ofereceu um pedaço de queijo que me sustentou durante toda a dramática travessia.
Numa noite fria, resolvi subir até a ponte de comando para fumar um baseado com o capitão do navio. O velho lobo do mar apertou um charuto de maconha que foi devidamente carburado por toda a tripulação. Inebriados pelos eflúviios maléficos da marofa, a Orquestra do Titanic começou a tocar os maiores sucessos de Bob Marley que, naquela época, não havia nem nascido. Enquanto todos estavam completamente emaconhados, o vigia, o único careta à bordo, gritou:
- Comandante! Um Iceberg à frente!
- Iceberg! Rosenberg! Goldenberg! É tudo a mesma coisa! Passa por cima! - retrucou o capitão do Titanic que, além de maconheiro, também era anti-semita e gostava de piadas velhas.
  Quando o mega navio começou a afundar, o pânico e a balbúrdia tomaram conta dos passageiros. Por todos os lados, víamos, assustados, efeitos especiais espetaculares! E agora em 3D!!! O que ninguém sabe até hoje é que o Titanic era uma obra do PAC, Programa de Aceleração das Catástrofes e foi todo feito nas coxas pra ser inaugurado em ano de eleição. As chapas de aço eram de madeira compensada, só havia um bote salva-vidas e dez bóias de patinho para todo mundo! Preocupados em salvar suas peles, visons, minks e malas Louis Vuitton, os milionários queriam escapar do naufrágio, salvar suas fortunas e afundar suas mulheres (necessariamente nesta ordem).

1 de abr. de 2012

A bruxa tá solta

Infelizmente, me faltam clichês e lugares comuns neste momento para comentar a morte do meu amigo pessoal (e impessoal também) Millôr Fernandes, o genial Millôr. Pena que o Millôr não possa comentar o seu próprio velório para demolir, uma a um, as bobagens que as pessoas estão falando sobre ele. É por causa do falecimento de pessoas como Millôr e Chico Anysio que eu sempre combati a morte com unhas e dentes e, até hoje, me recuso veementemente a bater as botas. Para desespero dos meus 17 leitores e meio (não esqueçam do anão que é o meu maior fã, quer dizer, menor fã).

Orfão de pai e mãe ainda na infância, Millôr, devido às más companhias, acabou caindo no jornalismo de imprensa. Conheci o Millôr no tempo da revista O Cruzeiro, a Veja daquela época, que era dirigida por Assis Chateaubriand que, mais tarde, desistiu do jornalismo para virar filé. Eu trabalhava de dia em A Noite, de tarde em O Dia e de noite em A Manhã. Brilhante, Millôr foi o maior frasista do Brasil, quer dizer, do mundo. Muito melhor que Oscar Wilde que pode ser considerado o Millôr Fernandes da língua inglesa. Millôr também traduziu Shakespeare para o português e ficou muito melhor que o original. Jogador inveterado, apostou tudo no Pif Paf, semanário de humor que os exames de DNA comprovaram ser o pai do Pasquim.

Escritor, jornalista, dramaturgo, desenhista e artista gráfico, Millôr também exercia a arte da conversa fiada com maestria. Ver o Millôr, ao vivo, falar com graça e inteligência sobre praticamente qualquer assunto era uma espetáculo admirável e, confesso, humilhante para nós, pobres mortais, que só usamos 10% da capacidade do nosso cérebro e assim mesmo só para pedir uma propina.

E como se não bastasse o Melhor Fernandes, lá se foi para a terra dos humoristas de pés–juntos o grande Chico Anysio. A Santa Casa de Misericórdia não tinha caixões em estoque suficientes para sepultar os 209 personagens do grande humorista, um dos poucos cearenses que não virou sushi-man. Além de seus personagens inesquecíveis, Chico Anysio contribui muito para o aumento populacional do Brasil fazendo um montão de filhos. Para pagar tantas pensões alimentícias, Chico teve que ralar até o fim da vida o que, aliás, foi ótimo pra nós, seus fãs, que também não conseguíamos sobreviver sem as suas piadas. Generoso, Chico também era preocupado com a educação e criou a Escolinha do Professor Raimundo que matriculou muitos humoristas, alguns até que não sabiam nem ler nem escrever. Polivalente, versátil e cheio de contas pra pagar, Chico fazia de tudo: escrevia, atuava, dirigia, fazia músicas e pintava. Pintava e bordava. A quantidade de mulheres maravilhosas que o esquálido pau de arara traçou supera até mesmo o número de personagens que criou.

E eu vou ficar bem quieto aqui no meu canto, na última página do Segundo Caderno, na minha, porque a bruxa está dando um rasante pro lado dos humoristas. Por que é que esta sinistra feiticeira não vai voar com a sua vassoura pro lado dos políticos, onde tem tanta gente boa pra morrer e, assim, dar uma alegria pro povo brasileiro?